Recebo essa pergunta com frequência no consultório — e agora, cada vez mais, nas consultas neurológicas online. “Mas, doutora, nunca tive isso antes… por que agora?” A dúvida é compreensível. Crises convulsivas, especialmente quando surgem na vida adulta, costumam assustar. E assustam mesmo.
Muita gente associa a convulsão apenas à epilepsia, mas nem sempre é esse o diagnóstico. A verdade é que o cérebro tem seus próprios modos de expressar que algo está fora do lugar. A crise convulsiva, nesse contexto, é um grito.
E como toda comunicação do corpo, precisa ser ouvida com atenção.
Afinal, o que pode desencadear uma convulsão em adultos?
A resposta curta seria: muita coisa. Mas vamos por partes, porque alguns fatores são mais comuns do que outros — e entender isso ajuda a direcionar a investigação de forma mais clara.
- Lesões cerebrais: como sequelas de AVC, traumatismo craniano, tumores ou mesmo infecções antigas. O cérebro pode “lembrar” dessas agressões e, em determinado momento, responder com uma crise.
- Doenças metabólicas ou alterações agudas: queda brusca de glicose, distúrbios eletrolíticos, insuficiência hepática ou renal. Às vezes o problema está fora do cérebro, mas o efeito aparece nele.
- Uso ou retirada de substâncias: o abuso de álcool, drogas ilícitas ou mesmo a suspensão abrupta de certos medicamentos pode causar esse tipo de crise. Já vi isso acontecer mais de uma vez, inclusive em pessoas que não tinham histórico neurológico.
- Epilepsia de início tardio: sim, é possível que a epilepsia comece na vida adulta. E, nesses casos, é fundamental diferenciar de outros tipos de evento, como síncopes ou distúrbios do sono.
- Crises não epilépticas psicogênicas: e aqui é onde a coisa fica mais delicada. Nem toda crise é de origem elétrica. Algumas são manifestações de sofrimento psíquico, e confundem até profissionais experientes. Mas são reais. Merecem cuidado, escuta, e não julgamento.
A lista é longa, e há ainda situações mais raras, como distúrbios autoimunes ou doenças genéticas que só se manifestam mais tarde. É por isso que cada caso precisa ser investigado com calma. Um exame aqui, uma boa anamnese ali… muitas vezes, é essa escuta detalhada que nos dá o diagnóstico certo.
E o papel da telemedicina nisso tudo?
Muita gente ainda tem dúvida sobre a eficácia da consulta neurológica por telemedicina nesses casos. E eu entendo o receio — afinal, estamos falando do cérebro, do sistema nervoso, daquilo que comanda tudo, certo?
Mas a prática tem mostrado o contrário. Em situações de crise já resolvida (ou entre crises), a teleconsulta é não só viável como altamente eficaz. Consegue-se:
- Coletar uma história clínica detalhada, muitas vezes com mais conforto e privacidade.
- Revisar exames com o paciente em tempo real.
- Avaliar vídeos das crises — sim, muitos familiares gravam — e isso ajuda demais.
- Evitar deslocamentos cansativos, que podem até aumentar o risco em quem está vulnerável.
- Garantir pontualidade e frequência no acompanhamento, o que é essencial para controle a longo prazo.
Já tive pacientes que simplesmente não conseguiam manter o tratamento presencial por causa da distância, do trabalho, da rotina com filhos pequenos. Com o atendimento online, conseguimos estabilizar quadros que antes estavam sempre em aberto, sempre pendentes. É transformador.
Para concluir…
Se você — ou alguém próximo — teve uma crise convulsiva na vida adulta, não ignore. Pode ser pontual, sim, mas também pode ser o primeiro sinal de algo maior. E a boa notícia é que, com o avanço da neurologia por telemedicina, investigar e tratar ficou muito mais acessível.
Menos barreiras, menos adiamentos, mais chance de um diagnóstico correto. Mais controle, mais segurança, menos medo. Porque o cérebro não espera. E, na dúvida, o melhor é não adiar.

